Amigos e personalidades escrevem sobre Moacyr Scliar.
O Moacyr era único. Só as pessoas relevantes habitam nossa memória por toda nossa vida. Mas o Moacyr não era só relevante, ele era único. Único no seu jeito de ser, único no modo de se relacionar com as pessoas, único em saber escutar e único em saber dizer a coisa certa. Nós o tinhamos por perto e ele era totalmente acessível aos seus amigos, ao seu público ou a quem quisesse se aproximar dele - sem barreiras, sem preconceitos. Sua humanidade era ampla e irrestrita. Por isto ele continua a nos visitar em nossos sonhos e em nossas vigílias. Por isso é tão dificil nos acostmarmos com a sua falta.
Abrahão Finkelstein, diretor da Mercatur Turismo & Viagens
Fiquei impressionado com a exposição sobre a vida e obra do Scliar, amigo de toda uma vida. Vi sua velha máquina de escrever, fotos e livros emocionantes. Matei um pouco as saudades, mas foi angustiante o dia que precisei falar numa mesa sobre o Moacyr Scliar. Parabéns aos que organizaram a exposição, nunca havia visto algo igual. Quem fechou os olhos pode tê-lo visto passeando por lá.
Abrão Slavutzky, médico e psicanalista
Moacyr Scliar: o Centauro do Bom Fim" conseguiu, por dois meses, levar seus visitantes a diferentes universos em pleno Centro de Porto Alegre - e com entrada franca. A travessia das famílias europeias até o Novo Mundo com a esperança de uma vida melhor, o simpático Bom Fim antigo, um bairro em que os vizinhos logo se tornavam amigos; e, é claro, a intensa vida e a incomparável obra de um dos maiores gênios da literatura brasileira: tudo estava lá, provocando os sentidos e a mente de gente de todas as idades. É uma exposição que merecia estar acessível de modo permanente ou rodar por outras cidades do pais.
Alexandre Lucchese, jornalista
O extraordinário sucesso da exposição Moacyr Scliar, o Centauro do Bom Fim – realizada em Porto Alegre, RS, no Santander Cultural, de 17 de setembro a 16 de novembro de 2014 -, fez mais do que levar o autor destas linhas a se comover, ao constatar quão vivas permanecem a obra, a história e a figura desse gaúcho que se tornou um dos ícones da literatura brasileira, a partir da segunda metade do século XX: levou-me a questionar falácias como a de que santo de casa não faz milagres, e que somos um país sem memória etc. Escalado pela idealizadora da mostra, Judith Scliar, para mediar uma de suas atividades paralelas - a mesa Do mágico ao social: a arte de contar histórias, com os escritores Cíntia Moscovich, Ignácio de Loyola Brandão, Luiz Antonio de Assis Brasil e Luís Fernando Veríssimo -, pude testemunhar o enorme interesse que o evento despertou, atraindo multidões, numa prova de que a imortalidade de Moacyr Scliar não se circunscreve apenas à Academia Brasileira de Letras, da qual foi membro, mas se estende ao coração do seu povo.
Antônio Torres, escritor
A exposição Moacyr Scliar – O centauro do Bom Fim, foi um marco em Porto Alegre. Oportunidade única da cidade conhecer melhor a vida e obra de nosso imortal local.
O espaço trabalhado com múltiplos efeitos nos transportava ao mundo de Scliar – desde o mobiliário do Bom Fim de sua infância até o mergulho nas suas diferentes narrativas. Fomos continuamente seduzidos a retornar à exposição em função da variada programação de artes e palestras que nos deixaram mais íntimos das diferentes facetas de nosso múltiplo artista.
Judith e demais organizadores estão de parabéns pelo conjunto da mostra e pelo cuidado com os detalhes.
Beto Conte, Diretor no RS do STB Trip & Travel
A Exposição “Moacyr Scliar, o centauro do Bom Fim” foi um daqueles eventos que ficam marcados na memória das pessoas e dos lugares Organizada de forma envolvente e muito rica em informações, a mostra conduzia o visitante ao mundo peculiar de nosso querido escritor. Com a reconstituição do bairro do Bom Fim, contando com mapas, fotos e objetos de época, além de vídeos especialmente produzidos, tudo na exposição evocava o enorme poder de fabulação e o maravilhoso sentido de humor e de afetividade que eram as marcas de Scliar. Uma exposição a ser vista por todos.
Cintia Moscovich, escritora
Foi a primeira vez que atravessei por dentro da vida de um amigo de décadas, vendo-o criança, visitando seu bairro, conhecendo seus pais, parentes, amigos, escola, livros, objetos pessoais, fotos de várias épocas, textos, teatro e filmes e outras coisas baseadas em textos que Moacir escreveu. Estávamos Antonio Torres, Judith Scliar e eu e de repente percebi que Moacyr não está mais aqui.
Foi estranho e ao mesmo tempo reconfortante. Somente assim uma pessoa não morre, quando sua memória é restaurada, mantida. Ali vi o Moacyr moleque, o Moacyr jovem, o jogador de basquete, o universitário, o médico, o viajante e palestrante. A todo momento vinham-me à mente imagens dele, viagens que fizemos, palestras que ele fez, livros que li dele. Ele em Pirenópolis, Goiás, calor escaldante e caminhando impecável, ao sol, de terno e gravata, imagem inesquecível, parecia um inglês. Quantos não param diante do fardão da Academia Brasileira de Letras? Maioria ouviu falar, nunca viu um de perto, inclusive eu.
Ah, se cada bom autor brasileiro tivesse uma exposição assim que pudesse percorrer o Brasil. Seria mais fácil o ensino da literatura. Conquistar o leitor pela vida do autor, seu trabalho, pensamento, manias, humor. Imagino uma criança, um jovem, mesmo um adulto, que nunca viu sequer uma foto do Scliar, atravessando por dentro deste mostruário rico, fascinante. Leria (melhor, lerá) com outros olhos, se aproximará mais. Mostra que é um ato de amor. Mostra que mantém vivo este homem que nos faz falta.
Ignácio de Loyola Brandão, escritor
A última viagem ao exterior do Moacyr foi para atender convite para palestrar em Paris e falar sobre literatura brasileira e latino-americana na prestigiosa e antiquíssima Universidade de Praga: nunca vi, nos anos que estive na República Tcheca, o público local tão divertido e sorridente com as tiradas cômicas e inteligentes do nosso tão querido escritor gaúcho. Mas não deveria ter-me admirado, pois já tivera a mesma oportunidade diante de platéia moçambicana, quando Moacyr e Judith me privilegiaram com uma visita em Maputo em 2004.
Mas é que Moacyr era para mim - como o conhecia desde minha adolescência - aquele médico sério, um dos assistentes preferidos de meu pai Ernani Camargo na então Faculdade Católica de Medicina: só os via discutir saúde pública, como levar estudantes às comunidades carentes e sobre campanhas de prevenção de doenças.
O escritor que eu lia com tanto prazer, como no "Centauro no Jardim" e outros da época, era outra pessoa, um anônimo, um nome sem rosto e corpo. Unir o nome à pessoa, é outra coisa. Por isso a recorrente surpresa a cada vez - e tantas foram- que me foi possível, no decorrer dos anos seguintes, colocar sob o mesmo chapéu o ser humano sensível com o gênio, com o humorista, junto com o profissional dedicado e o justo defensor de causas que considerava válidas.
Por tudo isso, tanta e tanta emoção causou-me o primeiro evento de que participei ao retornar a Porto Alegre após 40 anos morando fora de nossa Capital: a inauguração da tão linda exposição sobre Moacyr. Absolutamente tocante, pois ela abrangeu todos os aspectos desse homem que não só tanto admirei mas de quem tanto gostava.
Apenas um pequeno livro falta na mostra e é facilmente explicável: quando em Maputo, coloquei juntos, para o prazer de todos que participamos do almoço, Moacyr e outro dileto amigo meu, Mia Couto. Conversa boa, normal, mas quando dois assim se conhecem....sempre saem coisas ótimas, inesperadas. Entre elas, ambos me concederam os direitos para publicar pela Embaixada do Brasil algumas de suas crônicas para editar livro para ser distribuído a nossos interlocutores na África e o Itamaraty aos seus em Brasilia. Tiragem reduzida, nunca posto naturalmente à venda, procuradíssimo e logo, claro, esgotado. Judith, querida amiga, me comprometo a dar meu único exemplar desde que se abra um merecido Museu para Moacyr, como nosso Rio Grande merece.
Leda Lucia Camargo, Embaixadora do Brasil
Acompanhei os preparativos para a Exposição do Moacyr deste o início, e pude ver a alegria e paixão como foi montada pela Judith Scliar e toda a equipe, tão competente e amiga. Mas só pude ir a Porto Alegre para fazer uma visita ao vivo em Novembro, perto do fechamento - então já havia lido muito sobre o sucesso da Exposição, e sabia dos milhares de visitantes que por lá passavam todos os dias. Ainda assim, tive um impacto tremendo quando entrei no prédio do Santander Cultural, guiada pela própria Judith. Não foram poucos os momentos em que fiquei profundamente emocionada! tudo estava maravilhosamente concatenado, organizado, apresentado. Foi um presente para o público, e uma belíssima e merecidíssima homenagem para o nosso muito querido Moacyr Scliar. Espero que agora a Exposição possa vir também para o Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras!
Lúcia Riff, agente literária
Considero esta exposição a maior, mais completa e bem-realizada acerca de um escritor brasileiro. Não me refiro apenas à configuração do projeto e de suas propostas, mas também em sua realização, que utiliza o melhor e mais atual em termos de tecnologia e interatividade. Por certo que O Centauro do Bonfim merece circular pelo país, e que não nos tomem por bairristas, pois Moacyr Scliar, por sua imensa e qualificada obra, transcende os limites geográficos e culturais do Rio Grande do Sul. Parabéns aos realizadores e parabéns à Judith, a idealizadora incansável.
Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor
Acredito que essa exposição ficará na memória das pessoas pois ela foi além do que é tradicionalmente uma exposição. A idealizadora da mostra, Judith Scliar, proporcionou ao público uma verdadeira interação ao longo de um percurso pensado para transportar o visitante no tempo e no espaço. Iniciando no leste europeu, passando pelo pequeno país, o Bom Fim e se abrindo para o mundo, pois o legado de Moacyr Scliar é universal.
Ao puxar uma gaveta, resgatava-se uma lembrança, um momento feliz. Nas prateleiras, podia-se folhear um livro, um álbum, que Moacyr Scliar havia folheado. Foi uma imersão emocionante, que resgatou todos os campos do saber em que o Doutor Scliar não somente atuava, mas vivia intensamente.
Marie-Hélène Paret Passos, professora de literatura
Participar da exposição O Centauro no Bom Fim foi como reencontrar Moacyr Scliar. Com emoção. Caminhar com ele pelo nosso Bom Fim, ser voz de suas palavras, brincar com suas personagens, conversar sobre o mundo da perspectiva dessa nossa aldeia. Milhares de pessoas puderam viver em Porto Alegre, através da exposição, a experiência de conhecer ou reconhecer a extensa obra de Scliar e sua presença única como homem, pensador e escritor. Mais uma vez, obrigada Moacyr Scliar.
Mirna Spritzer, atriz
Ressalto a qualidade da exposição O Centauro no Bom Fim a Moacyr Scliar. A homenagem conseguiu mostrar todas as facetas de Scliar: escritor, médico e jornalista. A programação em paralelo com os seminários cobriram plenamente, em todas as dimensões, a obra e a vida de Moacyr. Fui amigo pessoal dele e tive o prazer de mediar o debate, nesta exposição, um lado pouco conhecido do autor: o jornalista.
Nelson Sirotsky, Presidente do Conselho de Administração do Grupo RBS e do Comitê Editorial
Nesta década de barbárie, a exposição dedicada à vida e à obra de Moacyr Scliar deu-nos uma lição de humanismo. Intelectual vocacionado para a tolerância, profissional da saúde dedicado à preservação da qualidade de vida das pessoas, escritor cuja imaginação fecunda não impedia a exposição dos problemas sociais, Moacyr Scliar oferecia-nos permanentemente aulas de sabedoria. A exposição, que recuperou sua trajetória traduziu esse universo e que a exibiu, de modo ao mesmo tempo didático e criativo, a visitantes ávidos de conhecimento e informações, preencheu amplamente seus objetivos, e sinto-me gratificada de ter participado desse projeto.
Regina Zilberman, professora adjunta do Instituto de Letras da UFRGS
"Lume!" Era assim que eu saudava animada e jocosamente Moacyr Scliar quando ele surgia na Redação de Zero Hora, sempre ávido para dividir jovialmente com a turma do Segundo Caderno suas impressões a respeito do novo filme de Woody Allen, da peça de teatro que chegou à cidade, daquele concerto de música que deixou a plateia siderada. Senti esse mesmo espírito alvoroçado - misto de inquietação intelectual, camaradagem e inabalável humor - ao visitar a evocativa exposição dedicada ao saudoso interlocutor de tantos papos agradáveis.
Mais: ao literalmente traçar nas paredes do Santander Cultural a cartografia existencial e literária do escritor, a mostra lembrou-me de forma pungente como a cosmogonia bom-finiana também foi definitiva na minha formação, apesar de nossas evidentes diferenças - etárias, culturais e formativas. Para mim, "Moacyr Scliar - O Centauro do Bom Fim" extrapolou a admirável evocação monográfica de um dos nomes incontornáveis da literatura contemporânea latino-americana: também me conduziu a uma visita pessoal à infância e à adolescência, espanando o pó da lembrança de experiências vividas no bairro porto-alegrense que moldou a ambos.
O grande artista faz com que sua luz ilumine as almas dos outros - e o lume de Moacyr é forte como o das estrelas, que continua a brilhar para além do fim.
Roger Lerina, jornalista e colunista do Segundo Caderno da Zero Hora
Conheci Moacyr quando ele começou a namorar minha irmã Judith. Ele ainda não era o escritor famoso que se tornou e escrevia contos que gostava de me mostrar e sobre os quais pedia minha opinião. Tornamo-nos logo amigos e de alguma maneira para mim ele foi como um irmão mais velho. Tudo nele era entusiasmo: a literatura, a medicina, a política, as artes, etc. Foi muito bonito acompanhar de perto sua trajetória pessoal e profissional e ver como ele mantinha o mesmo jeito simples, apesar da notoriedade que foi adquirindo. Quando Moacyr começou a escrever novelas, elas jorravam em uma velocidade impressionante. Ele escrevia em qualquer lugar. A família extensa estava na casa de praia em Atlântida e havia movimento e ruídos por todos os lugares e Moacyr escrevia como se estivesse sozinho em uma ilha, alheio ao que acontecia ao redor. Da mesma forma, ele nunca perdeu a simplicidade do menino do Bom Fim: tinha tempo para as numerosas demandas que recebia e atendia a todos do mesmo jeito acolhedor. A exposição “Moacyr Scliar, o Centauro do Bom Fim” foi uma merecida homenagem que contou com a participação de várias pessoas e instituições. Ao percorrê-la pela primeira vez, tive a sensação de que Moacyr ia aparecer de uma hora para outra de trás de um painel e me dizer: “Não sei por que me estão prestando tantas homenagens. O que achas de a gente sair daqui e ir no cinema? Há um filme imperdível que precisamos ver e discutir depois”.
Ruben George Oliven, professor titular de Antropologia da UFRGS
Generosidade pega? Tive a sorte de conviver com o Scliar por quase 4 décadas. Com ele, com a Judith, com o Beto e com os Oliven. Por certo me chamou a atenção o sanitarista que habitava o Scliar, capaz de enriquecer um time que fez com que a Secretaria de Saúde do RS fosse inscrita no mapa mundi. Época do Jair Soares, Germano Bonow, Fernando Guedes, Carlos Gari Farias, José Manoel Bertolote e Ellis Busnello, o pai de vários. Também me chamou atenção o escritor, claro. Disciplinado e preciso, me introduziu na cultura do Bom Fim, me fez rir com o "Melhor do Humor Judaico", mas acima de tudo me conquistou, em definitivo, com o "Centauro no Jardim".
No entanto, o que sempre me cativou no Mico foi sua generosidade, sua autêntica preocupação com o outro. Pois agora, nesta exposição recém finda, a Judith e sua equipe conseguiram nos mostrar o Moacyr Scliar inteiro, magnífico e terno. Revimos o médico, um dos porta-vozes da comunidade judaica, o literato, o ser humano, enfim. Não conheci alguém que falasse mal do Scliar e, na exposição, pudemos não só degustar suas contribuições quanto nos encontrar, nós, os amigos do Mico. Foi um grande momento de Porto Alegre neste ano de 2014.
Tudo isso só foi possível pela generosidade, agora não mais a do Mico, mas sim a da Judith e equipe. Por certo que generosidade não pega. Mais provável é que generosos escolham pessoas generosas como parceiras. Mas, a convivência pode ter potencializado a generosidade, o que ficou explícito na exposição.
Sérgio Paula Ramos, psiquiatra e psicanalista
O Bom Fim se eternizou na caneta do Moacyr. Lembro-me de que foi numa tarde ensolarada que, com um olhar atento de adolescente, presenciei o recebimento do primeiro livro do Moacyr autografado, que nos foi entregue pelo seu pai. Estava presenciando o surgimento de um autor que transformaria o nosso bairro Bom Fim em um campo fértil para a sua criatividade.
O Moacyr, com a sua simplicidade e clareza da escrita, povoou o nosso bairro de seres mitológicos, vestiu seus atores com as cores da velha Europa e avançou sua narrativa sobre todos os campos do conhecimento humano. Porém, foi na escrita semanal, em um jornal de grande circulação, que o médico escritor cativou em definitivo esse leitor.
Visitar a exposição em sua homenagem me causou um sentimento de plenitude. Atravessar a ponte que aproxima o passado do presente, dos tempos difíceis de nossos antepassados, até as possibilidades ilimitadas dos novos tempos.
Sons, luzes e imagens me levaram a um feliz impacto emocional que, em segundos, me remeteram ao Bom Fim da década de 50. A partir desse momento, passei a integrar o universo do Moacyr com tal intensidade que me senti um dos seus personagens de sua literatura.
Todos os setores foram visitados provocando uma vertiginosa sensação de satisfação em observar o domínio sobre a sua intensa produção literária. No final, é claro, respondi ao questionário avançado sobre o Scliar e recebi nota 8. Na realidade, o grau 10 só esta reservado para a Judith e o Beto.
Privilegiados espectadores de uma pessoa humana, sensível, profissional e respeitosa de suas origens milenares. Esse é o meu Moacyr Scliar.
Sergio Zylbersztejn, morador do Bom Fim, médico ortopedista e amigo de todas as horas
Num flashback mental percorri os momentos de convivência, a amizade, o carinho e os sonhos conjuntos. Foi uma bela viagem. Só não foi maior que a que fiz quando fui percorrer a exposição e tive a possibilidade de conviver diretamente com o autor e sua obra, dois gigantes de igual dimensão. Adorei as soluções dadas com os totens colocando personages para dialogar sempre sobre o olhar vigilante do querido Moacyr. Vocês deram soluções mágicas para uma obra mágica. Ah, como eu gostaria que essa exposição circulasse pelo Brasil e cada cantinho de nosso país pudesse conviver com a genialidade desse precursor do realismo mágico. Obrigado por ter nos oferecido esses raros momentos de praze e inteligência. Viva o nosso Moishale!
Silvio Tendler, cineasta
Lembrarei de 2014 por variadas razões. Duas delas especiais: o nascimento de Dora, minha primeira neta, uma avalanche sem precedentes de afetos e de afeições, e o encontro, reiterado e emocionante, com deuses, rabinos, comerciantes, alfaiates e mães judias que perambularam pelo espaço majestoso do Santander Cultural.
A mostra sobre a trajetória de Moacyr Scliar deu vida àquilo que sempre permeou meus sonhos e divagações. Tomo emprestada a oração - Eu vos abraço, milhões - título de seu último romance, e repito: eu vos abraço, milhões, dirigindo-me às criaturas nascidas da pena deste porto-alegrense do Bom Fim. Pinço traços, como sua generosidade no trato com as pessoas, seu senso de humor, a um só tempo sutil e delicado, sensual e malicioso, sua imaginação ilimitada vagando entre gigantes e seres minúsculos. Tudo de um relance estava ali, tátil e visualmente acessível.
Unindo tecnologia, competência cênica, talento museológico e sensibilidade, a mostra foi projetada e executada com amor e profissionalismo, uma combinação rara e extremamente bem-sucedida. Sugeria a nostalgia de um passeio, e transmitia o convite para ler e reler Scliar É isto que faço no momento, deliciando meu verão com a ideologia socialista do Capitão Birobidjan, com a inteligência da mulher que escreveu a bíblia e com as verdades convincentes de tantos personagens. Operários e reis povoam este universo que Scliar soube arquitetar com requinte e simplicidade.
Um presente para a posteridade. A exposição teve e terá o mérito de evocar um homem que deixou, entre todos, uma infinita saudade. É pena confirmar que imortal não é imorrível. Também aqui Scliar tinha razão, infelizmente.
Susana Espíndola, jornalista
Mais do que tudo, visitar a exposição foi um reencontro. Ou uma série deles. Reencontro com aquele jeito generoso de ser do Moacyr, com seus personagens e enredos, com a história do Bom Fim e com a trajetória dos imigrantes que desembarcaram no Brasil em busca de liberdade e de dignidade. Os vídeos, as fotos, os textos, os objetos. Não se estava contando ali a história de um homem, mas sim a história de uma humanidade.
Tulio Milman, jornalista
Viagem no tempo: atravessar o Atlântico desde a Bessarábia para chegar ao coração do Bomfim. Milagre operado pela magnífica exposição que tornou realidade o grande sonho de Judith de revelar a polifônica obra de Moacyr Scliar para um público mais amplo. Na verdade, a exposição emociona os conhecedores da literatura scliariana e incentiva os neófitos - sobretudo jovens que frequentaram em grande número a exposição - a ler contos e romances do autor. A exposição convoca todos os nossos sentidos apresentando uma multiplicidade de vozes que desvelam o autor e sua obra do ponto de vista dos familiares, dos amigos, dos colegas escritores e médicos e também de críticos literários. O que mais me encantou: a encenação de vários romances por renomados atores de teatro exibida em totens distribuídos no vasto espaço do Santander Cultural. Seria maravilhoso ter esta exposição de modo permanente em Porto Alegre em um Memorial dedicado a esse soberbo autor gaúcho.
Zilá Bernd, professora do PPG/Letras/UFRGS e do Unilsalle e pesquisadora CNPq