Com seu humor característico, Scliar conta a história de um jovem russo que, em 1916, deixa sua aldeia para cumprir uma missão revolucionária a mando de Trotski. Por engano, ele recebe um texto de Kafka e o entende como uma mensagem cifrada. A situação kafkiana que se cria terá desdobramentos até no Brasil do golpe militar.
Em Os leopardos de Kafka Scliar narra a história de Benjamin Kantarovitch, um jovem que no dramático ano de 1916, às vésperas da Revolução Russa, dos “dez dias que abalaram o mundo”, sai de sua aldeia judaica no interior da Rússia e vai a Praga cumprir uma missão revolucionária — planejada por ninguém menos do que Leon Trotski.
Benjamin está certo de que passará à história. O problema é que, antes de ser revolucionário, ele é atrapalhado. Perde um envelope contendo o nome do agente com quem deverá entrar em contato e, por engano, chega a Kafka, que inadvertidamente também contribui para o imbróglio: confundindo-o com outra pessoa, entrega-lhe um texto intitulado “Leopardos no templo”. A sucessão de equívocos terá desdobramentos inclusive no Brasil — para onde Benjamin emigrará —, à época do golpe de 1964. O jovem revolucionário russo se verá às voltas com a repressão brasileira.
Com o seu humor característico, em Os leopardos de Kafka Moacyr Scliar nos mostra que as coisas são mais trágicas — ou cômicas — do que parecem. Seu texto cria uma forma de ilusionismo que se anula sem cessar; essa “arte do desmentido” serve para afirmar, com notável originalidade, a ligação entre a literatura e a vida.