Caetano Veloso aborda a polêmica sobre “A vida de Pi” em sua coluna no Globo

Caetano também aborda o assunto na coluna de hoje, no Segundo Caderno do Globo.

CAETANO VELOSO
segundocaderno@oglobo.com.br

Luto

Acho que Ang Lee foi levado a fazer o filme de Pi por causa do desafio de pôr em cena a experiência de um menino sozinho com um tigre no meio do oceano. Essa ideia chegou a Yann Martel, o autor do livro em que o filme se baseia, através de “Max e os felinos”, romance de Moacyr Scliar, em que um menino judeu, sobrevivente de um naufrágio na fuga da Alemanha nazista para o Brasil, se vê num bote acompanhado de um jaguar. Martel tinha 36 anos quando aprendeu a história. Depois de ter dito que estava à espera de uma história com H maiúsculo para escrever um livro, deparou-se com o argumento de Scliar.

Apesar de tudo resultar bem, com o escritor gaúcho sem ânimo de abrir um processo por plágio, Martel aparece mal na fita quando diz ter lido apenas uma resenha escrita por John Updike (que depois disse nunca ter resenhado o livro de Scliar), mas sobretudo quando disse tratar-se de “uma grande ideia tratada por um escritor menor”.

Scliar pode ser visto no YouTube comentando o caso, muito desencanado. Martel terminou escrevendo um agradecimento nominal a Scliar “por uma faísca de vida”. “Não sou litigioso”, diz Scliar. E soa muito bem. Mas ele se ressente, como eu, de que a declaração de Martel sobre “escritor menor”, tendo dito que não leu o livro mas apenas a resenha, trai um preconceito contra a possibilidade de um livro brasileiro ser relevante. Em suma, o filme de Ang Lee é que faz brilhar a história dessa história.

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