Feira do Livro de Porto Alegre

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Em clima de intimidade e muita emoção, Moacyr Scliar foi lembrado tanto pelo seu trabalho quanto pelas particularidades do dia a dia no Tributo a Moacyr Scliar, hoje (27), no Santander Cultural.

A partir do livro homônimo ao evento, lançado no mês passado, a organizadora Zilá Bernd abriu a sessão com uma história que considera muito explicativa sobre o autor, morto em fevereiro de 2011. “A mãe dele, professora, fazia os filhos escreverem uma redação por dia. Nas férias, a produção subia para dois textos diários. Para se ‘vingar’ da sobrecarga, a segunda ele redigia em latim”, contou, levando o público aos risos.

À pesquisadora Marie Hélène Paret Passos, então, foi passada a palavra. Atualmente “debruçada” sobre o acervo de Scliar na PUC, ela revelou que “O Exército de um Homem Só” foi todo escrito em blocos antes de ganhar sua versão final. “Por eles dá para entender o processo criativo. Quem vê o livro pronto não imagina o trabalho deixado para trás na publicação”, afirmou. Outra descoberta foi o uso de todo e qualquer suporte para anotar suas ideias: “Ele pegava o que estivesse à mão. Nota fiscal de posto de gasolina, capa de talão de cheque, papeis de todos os tipos. Por ele, pode-se rastrear uma linha de raciocínio em busca da palavra certa”.

Luiz Antonio de Assis Brasil, romancista e amigo pessoal de Scliar, preferiu ler o depoimento que escreveu no livro-tributo a improvisar, por se considerar “bom com a escrita, mas não tão bom verbalizando”. Ressaltou as muitas habilidades do homenageado (que era médico, escritor, jornalista e leitor), relembrou os bilhetes que recebia dele (sempre em papel de receituário médico) e louvou o fato de ele nunca parar. “Nos encontramos na Protásio Alves certa tarde e ele não quis interromper a caminhada, mas conversamos brevemente, ainda que um de costas para o outro”, recordou.

A viúva de Scliar, Judith, encerrou o tributo com um depoimento inédito. Emocionada, contou que o marido não gostava de ser rotulado como escritor: preferia ser um contador de histórias. “Sua obra foi universal sem nunca abandonar as raízes gaúchas e judaicas”, destacou. E foi às lágrimas ao falar sobre a relação de 47 anos – dois de namoro e 45 de casamento – com o “marido carinhoso e pai dedicado” que ele foi. A plateia, também em lágrimas, aplaudiu de pé.

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